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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Reticências da arte

Sabe aquela sensação de olhar um quadro e não entender nada? Sabe aquela sensação de assistir um filme e sentir que “ficou no ar”. A arte tem essa dimensão: a sensação do abandono, da leveza irritante. A dialética da desconstrução. Alguém disse que a arte é aquilo que nos trai.
Tenho fome de arte, da verdadeira arte – essa arte da traição. Aquela que consegue deixar uma interrogação nervosa nos delírios de consumo. Aquele que se nega a vender como produto do mercadão de banalidades. Aquela que, ao me atingir, deixa a sensação da raiva e acabo idiotamente feliz. Gosto da arte que desafia, que não aprisiona o mistério. Arte que é...
Por favor, não me fale de “artistas”. Esse é um termo prostituído, vampirizado, banalizado, imbecilizado. Hoje, “artista” é o que decora textos pobres e rimas mecânicas. É o que dança tristemente os passos ordenados por uma ordinária coreografia. “Artista” hoje é o que vale o preço do ingresso – não sobra nada além dos míseros trocados.
            A arte é a libertação do “artista”. É não se render aos gigolôs da sociedade do consumo. É não gerar as mesmas risadas, ou as mesmas lágrimas do comodismo. A arte conhece outros caminhos para chegar ao coração – é subversiva! Dificilmente passa pelas veias largas das sensações e arrepios que desembocam em aplausos frenéticos e sem juízo. Isso é entretenimento, que muito raramente, é arte. A arte grita na desconstrução do murmúrio. Ora no altar do silêncio. É filha do caos. Apaga velas.
            A verdadeira arte reconhece as pretensões da linguagem. Sabe o limite. Talvez seja a nossa única transcendência. A arte é o sublime que esqueceu de sair daqui. Esconde-se num grafite, numa mão atirando fúrias na tela vazia. É capaz de incapacidades. Age no retrocesso, no reverso, no não-ir, não-ser...
Arte não se explica, se desespera.

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